Summary: | Esse artigo reflete sobre a cultura do crime nas sociedades brasileira e estadunidense conforme é expressa em discursos veiculados em programas televisivos voltados à temática criminal. Após uma breve revisão bibliográfica restringida à temática da “criminologia do outro” e à realização de um mapeamento dos gêneros televisivos relacionados à temática criminal, selecionamos os programas Brasil Urgente, Cidade Alerta, America's Most Wanted e Jail e observamos de que forma essas produções televisivas retratam a figura do infrator das leis, identificando suas diferenças e semelhanças. Identificamos que, no geral, nos seus discursos verbais e não-verbais, aos “bandidos” e “criminals” é relegada uma condição de alteridade ameaçadora que deve ser imediatamente retirada das ruas, sejam presas (America's Most Wanted), assassinadas por agentes institucionais (Cidade Alerta e Brasil Urgente), ou então humilhada nas prisões (Jail e Cidade Alerta). Identificamos também que a sociedade civil é convidada a participar do combate ao crime em quase todos os programas, mas sem “fazer justiça com as próprias mãos”. As produções brasileiras e estadunidense se afastam no tocante à forma e linguagem verbal. Chamou-nos a atenção o fato das produções brasileiras exigirem o endurecimento da ação policial a partir de um suposto “modelo estadunidense”, negando os direitos humanos aos “bandidos”. Concluímos que esses contrastes se devem às diferenças estruturais e históricas entres os dois países: se nos EUA um welfare state pode fincar raízes, no Brasil a permanência de estruturas tradicionais e paternalistas desenvolveu uma noção de cidadania seletiva baseada na posição social do indivíduo
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